sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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O futuro do atletismo está na escola, afirma medalhista olímpico.
Fonte: Correio Braziliense
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Na terceira reportagem da série, especialistas concordam que é preciso integrar o esporte às atividades escolares. Sem isso, o país jamais terá a renovação necessária para a descoberta de talentosNa terceira reportagem da série, especialistas concordam que é preciso integrar o esporte às atividades escolares. Sem isso, o país jamais terá a renovação necessária para a descoberta de talentosEntre todos os problemas que rodeiam o atletismo brasileiro, apenas uma questão não gera discórdia entre os especialistas: para a modalidade voltar a crescer, o que não acontece há pelo menos 10 anos, é necessário levar o esporte de volta às escolas.
“É preciso ter atletismo nas escolas para ter renovação”, prega o treinador-chefe da Seleção brasileira no Mundial de Berlim, Ricardo D’Ângelo. “Estamos precisando de atletas mais jovens e de potencial. Falta é massificação, mais gente praticando”, ressalta.
De acordo com D’Ângelo, essa é uma discussão que a Europa também está tendo. “A juventude que no passado estava interessada no esporte hoje tem computador, internet, videogame. Esse problema aconteceu antes nos países desenvolvidos. É um fenômeno que chegou com atraso aqui (no Brasil)”, cita o treinador. O técnico brasileiro, que participou da Conferência Mundial de Treinadores, organizada pela IAAF logo depois do mundial de Berlim, conta que um professor da Universidade de Colônia, na Alemanha, garantiu: um terço dos aluno não sabem correr de costas, o que significa falta de coordenação motora. “Nos Estados Unidos também as crianças chegam obesas e sem condicionamento físico”, cita D’Ângelo. Conhecido por ter descoberto Carmem de Oliveira e Hudson de Souza, ambos recordistas brasileiros, João Sena é enfático: “Por que somos bons no futebol? Porque temos cinco milhões praticando, contra 1.500 do atletismo”, compara. “Antigamente tinha mais gente praticando. As competições estão esvaziadas. São 40 atletas nas pistas. Se a gente se esforçar muito, chegam a 60. Na década de 80, nos jogos escolares, só nos 100m eram de 80 a 110 atletas”, recorda.
Último corredor brasileiro a conquistar uma medalha de ouro olímpica (nos 800m, nos Jogos de Los Angeles, em 1984), o brasiliense Joaquim Cruz é outro que ressalta a necessidade do esporte escolar. Ele é taxativo quando afirma que se não houver um planejamento para levar o esporte às escolas, como acontece em vários países, inclusive nos Estados Unidos, onde vive há mais de 20 anos, o Brasil dificilmente conseguirá reverter a atual situação do atletismo nacional (veja Palavra do especialista).Modalidade passa longe dos alunos.
O Distrito Federal tem, de acordo com a Secretaria de Educação do GDF, 213.518 alunos matriculados entre a 5ª série do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. Entretanto, desse total de jovens (entre 11 e 18 anos), poucos praticam o atletismo. As maiorias dos alunos nas aulas de educação física trabalham modalidades coletivas como basquete, vôlei, handebol e futebol.
Como quase nenhuma das mais de 600 escolas do DF possui pista de atletismo, a modalidade é desenvolvida apenas por alguns professores. A outra saída para os alunos é procurar o CIEF, na 907/908 Sul. E a segunda opção é praticamente descartada, já que somente 29 alunos se inscreveram este ano no CIEF para praticar atletismo.
Logo ao lado do CIEF, no Centro de Ensino Fundamental Polivalente da 913 Sul, o professor Paulo Serra diz que tenta inserir a modalidade nas aulas de educação física. “Já levei duas vezes turmas minhas para fazer oficinas de atletismo no CIEF, mas não são todos os anos que dá para fazer”, explica.
Mesmo assim, o professor garante que passa os conceitos básicos do atletismo para os alunos na aula. São técnicas de saída baixa (largada), movimentos de perna e de braço e tiros rápidos. Tudo no espaço da escola ou na rua ao lado. “A gente tenta investir na técnica para ver se desperta o gosto pelo esporte”, diz Paulo Serra. Mas apesar do esforço, a modalidade não anima os alunos da 8ª série, que nunca tiveram nenhuma aula de atletismo. “Tinha que ser aula só do que a gente gosta”, propõe Jéssica Paiva, 14 anos, apaixonada por Futsal.
Acostumado a trabalhar com jovens estudantes, João Sena percebe esse desânimo. “Falta interesse e isso parte da escola. Esta pista (do estádio de Sobradinho) é um achado. Sabe quantas escolas vieram aqui pedir para usá-la? Nenhuma”, reclama. Para o professor de educação física do CIEF, Guilherme Samy, a questão é muito mais profunda. “Falta uma política de esportes, uma discussão séria do que se quer do esporte brasileiro”, desabafa. E essa discussão já está muito atrasada, lembra o treinador Ricardo D’Ângelo. “Uma mudança profunda pode, talvez, surtir efeito em 2016”, prevê. Palavra do especialista.
Respostas para o quebra-cabeça, segundo Joaquim Cruz.
A nossa estrutura política do esporte se parece com peças de um quebra-cabeça. Cada órgão governamental que cuida da formação da criança brasileira funciona isoladamente, com metas individuais. Está na hora de dar mais atenção para os estudos e para a realidade do resto do mundo.Em 2004, a ONU fez um estudo em todos os 202 países membros: o que cada governo faz com a área esportiva?No final, computaram os dados e chegaram à seguinte conclusão: para cada US$ 1 investido em atividade física na idade escolar, o governo tem um retorno de US$ 3,4 na forma de redução da ida dos garotos aos centros de saúde e de internações, melhoria da qualidade de vida e, principalmente, melhoria no rendimento escolar.
Nos meus 28 anos morando e trabalhando nos Estados Unidos aprendi a conhecer a política externa e interna do desporte americano. O objetivo principal dos órgãos que cuidam da formação da criança americana (no caso dos meus filhos) é trabalhar para que ela tenha oportunidades de estudar e praticar esporte ao mesmo tempo e sobre o mesmo teto. A educação e o esporte fazem parte do desenvolvimento do jovem como um todo, independentemente se ele venha a ser atleta ou não. Esse é um processo que tem o selo da ONU.
Nos EUA, são pouquíssimos os atletas que se profissionalizam antes de terminar a faculdade. O esporte e a educação caminham juntos até o final. A oportunidade só aumenta para o estudante-atleta. O meu filho, de 12 anos, que nem sabe ainda em que esporte irá especializar, já tem a camiseta da Universidade de Los Angeles(UCLA) e diz que vai jogar basquete para a universidade.No Brasil, temos 33 milhões de jovens estudando, mas pouquíssimos praticando esporte. Se 0,1% desse potencial, 33 mil, for para a prática esportiva, com certeza teremos um potencial para trabalhar. Essa é a grande diferença. O Brasil não é os Estados Unidos. Mas podemos aprender sobre os sistemas que funcionam nos outros países e, aos poucos, adaptar ao nosso. Quando uma atleta no entra no palco esportivo para competir, ele está representado as melhores qualidades do seu pais. É uma questão de orgulho nacional.
Eu gostaria de ver acontecer uma reunião dos agentes do Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério da Cultura, Ministério da Esporte (de base/lazer e rendimento) para, finalmente, discutir sobre os nossos desafios na formação da criança. Temos que juntar as peças do quebra-cabeça para o bem do país.
por: Thalita Kalix

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